Brasil na Taça: O Pinot Noir da Aurora


Neste segundo post sobre vinhos brasileiros vou falar um pouco do Pinot Noir 2013, da Aurora. A vinícola, aliás, foi a grande surpresa da visita que fiz recentemente à Serra Gaúcha. Antes dessa experiência, por absoluto preconceito, jamais compraria vinhos daquela que assina o Sangue de Boi e o Saint Germain.
Provei oito excelentes rótulos, incluindo espumantes, brancos e tintos. Mas os grandes daquela manhã foram o Chardonnay 2012 e o Pinot Noir 2013, resultado do trabalho que vem sendo desenvolvido em Pinto Bandeira, uma região próxima à Bento Gonçalves na qual a Aurora tem apostado alto e que é uma das quatro Indicações de Procedência (IP) já atribuídas aos vinhos finos brasileiros.
A vantagem de estar no topo da serra (730 metros de altitude) e distante 100 km da costa é que as videiras sofrem a incidência das correntes marítimas durante todo o dia, e isso as deixa livre da umidade e, portanto, de doenças fúngicas. Outro detalhe é que apenas entre 30 e 50 centímetros separam a superfície do solo das rochas basálticas de origem vulcânica que caracterizam o terreno da região, responsáveis pela mineralidade dos vinhos produzidos ali. 
É o que diz o enólogo André Perez Jr, contrariando alguns geólogos que recentemente passaram a defender que o que se percebe como mineralidade num vinho não vem do solo. Comprovado isso, imaginaem se os produtores de Chablis tiverem de mudar seu discurso centenário! 
As grandes variações de temperatura, própria dos climas de altitude, com noites frias e dias quentes, contribuem para a maior concentração de aromas da fruta. Também favorecem uma maturação gradual e lenta, fazendo com que os teores de ácidos e açúcares cheguem altos no momento da colheita, o sonho de todo enólogo. 
As 6500 garrafas de Pinot da safra 2012 acabaram em dois meses e meio. A que provei era uma das 10.000 produzidas em 2013, ainda disponível no mercado por 38 reais. Um sommelier experiente que participava da mesma degustação comparou aquele Aurora a grandes franceses da Borgonha, chamando atenção para o enorme potencial de guarda dele.
Inspirada pelo discurso e pelo preço de 25 reais, coloquei dois Pinot desses na mala. Em casa, o vinho não me provocou a mesma empolgação. Sim, eu acredito que circunstância e estado de espírito possam motivar percepções diferentes do mesmo vinho. E naquele dia, em meio àquele cenário, eu tava tão feliz! Dos três meses de carvalho o vinho herdou aromas defumados, de chocolate e especiarias. As frutas vermelhas estavam lá, no nariz e na boca. Mas me pareceram maduras demais. Ele já não era tão elegante quanto da primeira vez. No tripé que dita o equilíbrio, os taninos saíram na frente da acidez e do álcool (12,5%). Será que melhoraria se eu o tivesse decantado? 

Enfim, tem outro ali na masmorra, como diz o BK. O tempo me dirá e eu vos direi. 


Roberta Pakas 

2 comentários:

BK72 disse...

Ótimo texto, Roberta.

E essa decepcao que vc teve em casa ja aconteceu comigo também algumas vezes. Acho que é até bem comum.

Eu nunca vi esse vinho. Vou procurar.

Bj

Anônimo disse...

25 pratas por um pinot? Com esse calor de matar, decepção é não encontrar no mercado.

Eu, que já estou um tanto cansado dos vinhos tipicamente novomundistas, também vou procurar esse aí pra um test drive.

Bom texto!